01
O meu amor fez pirraça
Tentando me machucar;
Porém, num golpe de raça,
Eu consegui me livrar.
02/l98l
Dois de dezembro, quarenta.
A minha idade, o Senhor,
No livro da vida assenta,
Por seu infinito amor.
03
Começa a vida aos quarenta,
Portanto, tenho um só dia.
Mas o amor já se apresenta
Em forma de poesia.
04
Sou forte, sou invencível
No jogo duro do amor;
Mas esse gênio terrível
Perturba esse trovador.
05
Vou devagar nesta meta
De amor, nos versos, cantar.
Minha sina é ser poeta
Das letras do verbo amar.
06
O meu amor lá na praia,
Cantando me disse assim:
- Sou sereia de tocaia
Vou roubá-lo para mim.
07
No meu rosário de trovas
Já fiz a minha oração.
De um grande amor, já dei provas
De existir no coração.
08
Eu, que vivia esperando
Um grande amor encontrar,
Agora vivo abraçando
Quem tanto estive a esperar.
09
Lá vai um barco no mar
Meu grande amor transportando!
Fiquei triste a soluçar
Já por meu bem esperando.
10
Guardo na minha lembrança,
Dos teus olhos, o fulgor;
Mesmo não tendo esperança
De conseguir teu amor.
11
No peito de muita gente
Falta amor, falta alegria,
Quando falta, de repente,
A chama da poesia.
12
Me disse a musa: - Não basta
Ter alma de trovador.
É preciso n’alma a casta,
A singeleza do amor.
13
Chorou Sansão, foi vencido.
Seu braço forte, pendeu.
Na trama do amor, ferido,
Quanto tormento sofreu.
14
Saudade é coisa que mora
No meu peito sofredor.
Eu sei que minh’alma chora
A perda daquele amor.
15
Cigarra, Segue em teu canto!
Beija a rosa, ó beija-flor!
Vou derramando o meu pranto
Por causa daquele amor.
16
A musa disse sorrindo:
- Porque deste tanto amor,
Vou gravar um verso lindo
No teu peito sonhador.
17
O vento frio da serra
Esfria até a minh’alma.
Mas esse amor que se encerra
No meu peito, aquece e acalma.
18
Lá na folha da palmeira
Canta alegre o bem-te-vi,
Zombando, amor,da maneira
Que o teu beijo consegui.
19
Não faço versos por arte;
Transcrevo o meu pensamento
Quando o amor, modéstia a parte,
Toca forte em meu talento.
20
Nas quatro linhas da trova
De amor, santa inspiração,
A minh’alma se renova
E destrói a solidão.
21
Eu vi na terra um sinal
Quando eu era inda menino.
Mostrava o amor, sem igual,
Que seria um desatino.
22
Cantei meus versos na serra;
Cantei à beira do mar,
Pois o amor, do mundo, a guerra
Não consegue suportar.
23
Acaso será miragem,
Será mentira, será?
Do meu peito, aquela imagem,
Do amor, jamais sairá.
24
Voem meus versos pro Norte
Meus versos voem pro Sul.
Meu amor virá, por sorte,
Do infinito céu azul.
25
Eu canto à luz da alvorada;
Canto e, com muito calor,
No peito da minha amada,
Sepulto um grande amor.
26
Quando eu do mundo partir
(Ouça, amor, a profecia),
Irei pro céu a sorrir
Recitando poesia.
27
Um anjo disse sorrindo:
- Meu amigo trovador,
Tu, deste mundo partindo,
Terás, no céu, todo amor.
28
Na roleta desta vida,
No amor um verso apostei.
Por azar deu despedida,
Perdi tudo o que eu joguei.
29
Que fado o meu, fazer versos,
Usar minha inspiração.
Às vezes, mesmos aos perversos,
Falar de amor e paixão.
30
Fecho meu peito, afinal,
Pra que deixar ao relento
Esse amor universal,
Meu humano sentimento?
31
Este sublime rosário,
Um ano cheio de amor,
É o mais nobre relicário
Deste pobre trovador.
Gilson Faustino Maia